segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A vida

Ouvia hoje no trabalho duas mulheres de cor à conversa animadas e divertidas:

'Todo o dia a trabalhar, cheguei a casa tive de passar a ferro; fazer o jantar; obrigar os garotos a ir para a banheira, e depois a fazer os trabalhos da escola e depois a dar-lhes o jantar e a metê-los na cama. Quando o meu Américo chegou do café onde esteve umas boas horas a beber com os amigos depois de sair do trabalho, eu ainda estava a arrumar a cozinha. Ele jantou e eu fui pendurar a roupa da máquina, ele comeu e sentou-se no sofá. Quando acabei de pendurar a roupa ainda tive de arrumar outra vez a cozinha que ele deixou tudo desarrumado, e quando finalmente terminei e me fui sentar um pouco no sofá, antes de me deitar que já era tardíssimo, ele atira-se para cima de mim, ainda queria brincadeira!!'
E riam as duas com risinhos malandros e descarados.
'Oh Américo estou tão cansada! Sai pra lá...'
'Ah pobre amiga, tanto trabalho e o Américo vem pra cima de ti...!!' dizia a amiga e riam.
'Sai pra lá Américo... tu só queres estar sempre em cima de mim, vens do café e saltas pra cima de mim!' e mais risada!
A outra que ouvia a história para além de rir dizia que o dela, fazia exactamente o mesmo...

O que custa a vida às mulheres, e mais ainda a estas mulheres que fazem tarefas fisicamente exigentes, todo o dia a limpar de empresa em empresa. Quando chegam a casa têm toda outra empreitada para despachar, filhos para cuidar e maridos para aviar que nunca ouviram falar em direitos e deveres iguais para ambos os sexos e em partilha de tarefas! A vida destas mulheres é dura, mas nunca num só momento aquela conversa tinha contido um lamento, uma queixa. Narrava-se ali assim a história só pela graça que encerrava, pelo cómica que era, inclusivamente porque em dia nenhum vi aquelas mulheres de cor que andam por ali a limpar com má cara, com cara de zangadas ou deprimidas, o sorriso que trazem consigo é sempre mais ou menos o mesmo, tenham aviado os maridos na noite anterior depois de muito trabalhar, ou não!

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